sábado, 9 de janeiro de 2010

Pinheiro que não se fabrica mais


Antão, fala mais baixo!!! – falou minha mãe, dizendo para diminuir o tom de voz. Sabe o que é? Antão era um homem grandão que morava aqui na cidade. Grande como ele só a sua voz. Parecia aqueles negrões americanos com voz supersônica.

E minha mãe não perdia uma só oportunidade para nos comparar com alguém, se era gorda, era igual a Dona redonda da novela Saramandaia, se era magra também não escapava ela dizia que era igualzinha a Dona Conceição, a merendeira lá da escola. Então, Antão.

Mal ou bem, de família ou não, só sei que falar aos trovejões é marca registrada das mulheres da minha família, mal que vai passando de geração em geração. Esse atributo é herança paterna, muito embora, minha mãe , talvez por hábito tenha se tornado um Antão de saias.

Meu avô era assim, as pessoas se assustavam e pediam desculpas quando ele as elogiava, tal era o griteiro e o jeito sisudo que costumava falar.

Seu Pinheiro, sincero e honesto como não mais conheci outro. Vendia seus relógios assim: Esse é uma bagatela, mas já vou avisando que não tem garantia, não vale grande coisa. Mas... – dizia ele virando para o outro balcão.

- Se quiser coisa boa, com garantia e á prova dágua, temos esses aqui Oriento ou Technos. Esses sim, duram a vida toda.

Com ele não tinha tranqueira levava se tinha dinheiro ou se não tinha, , ninguém entendia seu jeito de fazer negócios, mas que dava certo, ah isso dava. Acabou se tornando um dos mais estáveis comerciantes de Ouro Negro, cidade onde nasci e moro até hoje.

Era também em Ouro Negro que morava uma anãzinha que se ocupava de ficar parada na porta do banco a pedir moedas. Era quase fanha a coitada, falava oitenta por cento pelo nariz e vinte por cento pelo guarda-chuva ou sombrinha que carregava na mão.

Figura sofrida essa Dona Violeta, sozinha com sua touca de crochê azul, meias listradas em estilo zebrinha e a sua já tão falada sombrinha de bater na gurizada que a perseguia rindo e chamando:

-Lagartiiiixaaaaaa!!!

Pois foi para ela, a Lagartixa que Seu Pinheiro abriu crediário realizando um antigo anseio da baixinha com nome de flor, ter o seu radinho de pilha para ouvir a Rádio Itaí. Toda a semana, religiosamente ela aparecia, sombrinha numa mão e agora, radinho de pilha pendurado no braço, trazendo uns “pilinhas” para diminuir a dívida.

Uma vez elogiei a atitude do meu avô e ele, sisudo e com um vozeirão a “la antão”, disparou:

-Favor coisa nenhuma. Eu sou lá de fazer favor pra alguém? E negócio é negócio, entendeu “chouriço”. – dizia me apertando o nariz.

Entendi sim, era “negócio”. Essa foi uma das diversas vezes em que vi meu avô dar outro nome a generosidade e respeito ao próximo.

Pinheiro assim que o mundo não fabrica mais!

4 comentários: