quarta-feira, 12 de maio de 2010

Uma dor chamada Saudade


Eu e a Kátia juntas no meu aniversário de 3 anos, ela tinha quase dois anos

Nós duas e a boneca Soneca da Vó




Sempre que fecho os olhos, volto àquela tarde, sentada ao lado da cama dela, naquele hospital. Estava ali presente e, como sempre se repete na vida de qualquer um, melhor é a presença do que a ausência.E por mais egoísta que eu possa parecer eu preferiria ir todos os dias ao hospital e sentir sua presença, ouvir sua respiração, sentir o cheiro do suor nos seus cabelo, ver seus lábios balbuciar algumas palavras. Até hoje, por vezes penso que se pegasse o ônibus e fosse até o hospital, pegasse o elevador até o sexto andar, caminhasse por aquele longo corredor, penúltima porta à direita, poderia te encontrar ali do jeitinho que te deixei naquela tarde, deitada na cama junto a janela, de costas olhando para o pátio. O que será que pensavas? Quais eram teus sonhos mais secretos?

Quem sabe nesse dia você me olharia zangada e talvez me dissesse:

- Por acaso esqueceram de mim aqui? Coisa séria...vocês..

Penso o que fazer no Natal sem a tua presença. Acho que o Natal nunca mais terá graça sem você, sem tuas caretas...os presentes...sempre especiais...

Enxergo um anjo negro em nossas vidas e ele ri da minha cara, quando vê você partir e deixar esse vazio em mim...

Remexo nas fotografias, tão feias que estão, o tempo passou, acredita, nossas fotos eram em preto e branco, como hoje está a minha vida sem você. Algumas já amareladas, em outras tive que fazer um ajeite porque ao tentar descolar do álbum acabaram rasgando.

Tua carinha feliz, teu sorriso contagiante, persegui um certo tempo tua beleza e o teu jeito espontâneo, acabei desistindo de te alcançar e me esforçando ao máximo para tirar boas notas na escola, melhores que as tuas, é claro!...hoje sei q eu nunca fui páreo pra você, nunca.

Nós duas de minissaia curtíssima, sentadas no carrossel na festa da Igreja ou abraçadas no meu aniversário, quando inventaram uma capa que se colocava na tela da televisão e que deixava a imagem colorida, lembra? O Topogigio ficava vermelho...que máximo!!!Era brasa!!!

Nossa bonecas, ah nossas bonecas, as minhas se chamavam Ana alguma coisa e a tua preferida chamávasse Letícia, e a boneca Soneca da vó Morena, adorávamos brincar com ela, tínhamos que fazer isso escondido, pois ela não podia sair de cima da cama da Vó e era bom só porque não podíamos mexer...

Nossas fantasias de carnaval e as fotos na escada do clube, ano a ano, tu rainha, eu porta-bandeira. Era tão bom olhar para o lado e ter o pai e amãe junto da gente, a Vó, o Vô e o Carlinhos...todo mundo que a gente gostava.

Duas músicas me lembram de ti, uma publiquei no jornal logo depois que tu te foste, é do Kleiton e Kledir e escrevi ela no cartão que te dei no teu último aniversário: “Meu irmão, meu par”!...formamos um par a infância inteira, na adolescência e depois a gente foi se perdendo uma da outra, até se separar de vez...mas a vida é assim...

Ah, a outra música, acho que não a conheceste, vou cantar um pedaço, mas já sei que vou chorar, brigo comigo mesma quando isso acontece, meu peito dói e não é doença, é uma dor que eu chamo de ...Saudade. É assim:”...você precisa saber da piscina ( a que a mãe colocou nos fundos de casa, no lugar dos balanços e das laranjeiras), da Karolina (que cresceu tanto, precisando tanto de você, mas é uma mulher maravilhosa), da gasolina (que sempre me lembra o quanto você amava dirigir), você precisa saber de mim (que quase morri pela tua falta), baby, babyyyy (minha mana mais nova, meu par), eu sei que é assim...você precisa tomar um sorvete na lanchonete, andar com a gente, me ver de perto...comigo está tudo bem, contigo tá tudo em paz, moramos na melhor cidade da América do Sul...você precisa, você precisa..precisa saber o que eu sei e o que eu não sei mais (há tanta coisa que eu não sei mais...)

Pois é querida, o tempo passou, as coisas mudaram, não acreditaria se visse teus filhos agora!Cresceram tanto, estão bem, qualquer dia o Diogo casa, o Pedro vai para Faculdade.

...Estamos bem...eu estou bem e hoje até já sei que essa carta não vai precisar ser lida, um dia a gente vai se encontrar frente a frente e eu me alegro com isso...muito.

Esses dias sonhei que estava pegando um trem e que carregava aquela mala marrom do Vô Patrício, aquela que ele carregava relógios e bugingangas...o trem rodou e saiu da cidade, entrou num campo lindo e eu desci ali, caminhei por entre as árvores e te encontrei sentada em um banco, como esses bancos de praça, não sei o que fizemos, ou o que conversamos, mas tu estavas tão bem, tão bem, então acordei e chorei, chorei...
 não sei esperar, lembra? Quero tudo na hora, mas há tempo para todas as coisas...